Renan Marra
Folha de São Paulo
04/08/2018 02h00
Serviço mal feito e atraso na execução do trabalho são os grandes problemas enfrentados por quem contrata profissionais independentes para fazer reformas, consertos e manutenções em casa, segundo os registros dos órgãos de defesa do consumidor.
Muitas decepções após a prestação desses serviços podem ser evitadas, desde que o morador tome precauções antes da contratação e durante a execução do trabalho.
Registrar o combinado por escrito é um passo importante para reaver parte ou todo o pagamento em caso de prejuízo, dano ou insatisfação.
Já quando o trabalho é pequeno, não é necessário formalizar um contrato. A troca de emails, com detalhes do serviço pedido, é suficiente para munir quem contrata.
Atualmente, a maioria dos acordos de prestação de serviço ainda é verbal, segundo entidades de defesa.
O Código de Defesa do Consumidor obriga o profissional a refazer a tarefa ou a devolver o valor pago em caso de má prestação de serviço.
No caso de uma reforma, por exemplo, o Procon-SP aconselha o consumidor a partir para a quebradeira de fato apenas depois de saber especificamente quais mudanças deseja fazer. Isso facilita a busca por profissionais especializados, o que reduz as chances de insucesso.
Pedir cartas de recomendação e analisar o currículo de quem se pretende contratar é outro cuidado para evitar frustração e prejuízo.
A professora Cátia Primon diante da escada que teve de ser refeita, em sua casa em São Paulo
A professora Cátia Primon, 50, conhece bem esses cenários. Durante a construção de sua casa, na zona norte de São Paulo, ela teve de substituir engenheiro e pedreiros -os últimos trocados quatro vezes-, por insatisfação e porque alguns deles abandonaram as obras sem explicação.
Além disso, teve de demolir o que havia sido mal feito e gastou dinheiro com a reposição de material desperdiçado.
Anos depois, Cátia voltou a ter problemas, desta vez com reformas que incluíam a troca de pisos e a ampliação da área da churrasqueira. A obra, prevista para ser entregue em 45 dias, se arrastou por 11 meses. O orçamento quase triplicou.
“Tive que interferir no trabalho e perguntaram se eu entendia de obra”, diz. “Foi uma frustração imensa.” Calejada, hoje a professora só paga por um serviço quando o recebe.
Essa tática é coerente com uma das recomendações do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) para quem vai mexer na casa. Segundo a entidade, vale dividir o pagamento dos serviços conforme as fases de execução. Em uma reforma, é aconselhável que o consumidor pague por cômodo concluído.
Isso porque são comuns reclamações sobre profissionais que alteram o cronograma do serviço, aumentando custos.
*Preço médio no mercado formal em jul.2018
**Com encargos sociais
Fontes: Secon e SindusCon-SP
A tradutora Stephania Bongiovani Wagner, 41, acreditava que o marceneiro que trabalhava em sua casa era de total confiança. Quando viajou em lua de mel, entregou as chaves da casa para o profissional. Ao voltar, encontrou tudo de ponta-cabeça.
A reforma estava pela metade e havia materiais de construção espalhados pela casa e pelo jardim, que foi destruído e teve de ser concretado.
Além disso, Stephania percebeu que alguns de seus pertences haviam sumido, incluindo uma coleção de DVDs e uma camisa da seleção brasileira de seu marido autografada por Pelé.
Quando fez boletim de ocorrência contra o marceneiro, a tradutora descobriu que ele já havia aplicado golpes em outras pessoas. Nunca mais o encontrou.
O consumidor deve ficar atento, ainda, a preços abusivos, que costumam ocorrer em situações em que ele não tem muitas opções. Por exemplo os praticados por alguns chaveiros ou desentupidoras 24 horas.
Um prestador que trabalha de madrugada não pode se aproveitar da oferta escassa para aumentar de maneira excessiva o custo de uma urgência. Caso haja suspeita de abuso, vale acionar entidades de defesa do consumidor.
Para o presidente licenciado do Sintracon (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo), Antônio Ramalho, prestadores de serviço deveriam passar por programas de certificação para aprimorar sua técnica e reduzir a insatisfação do cliente.
“Estamos em época de robotização. Se o homem não se qualificar, não vai mais achar esse tipo de vaga, que envolve mão de obra e trabalho braçal”, diz Ramalho.
Fontes: Secon e SindusCon-SP