Saiba como se planejar para evitar atrasos durante uma reforma
CAROLINA MUNIZ © Folha de São Paulo 28/01/2018É quase impossível uma reforma terminar sem atraso. Uma série de imprevistos, como vazamentos ocultos ou intempéries, contribuem para isso. Mas há outros fatores que, se bem planejados, podem evitar que o cronograma saia (muito) do previsto.”A obra é um organismo vivo, não é algo cartesiano. Mesmo com um bom projeto, surgem novidades”, diz o arquiteto Tulio Xenofonte.Para começar, é importante pedir no mínimo três orçamentos e buscar referências dos profissionais envolvidos na obra –inclusive sobre o cumprimento de prazos.
A personal chef Gisane Grillot, 40, em seu apartamento em Guarulhos, na Grande São Paulo (Alberto Rocha, Folhapress)
Com data para sair de um imóvel alugado, a personal chef Gisane Grillot, 40, tinha pressa de acabar a reforma de seu apartamento de 110 metros quadrados em Guarulhos, na Grande São Paulo. Para facilitar, ela contratou uma empresa que oferecia toda a mão de obra, incluindo arquiteto e engenheiro.A ideia era acelerar a execução. “Ficou mais caro, mas achei que valia a pena pelo conforto”, afirma.A promessa era entregar o apartamento em dois meses, no fim de janeiro de 2016. A dona da empresa insistiu em receber 50% do valor adiantado, mas Grillot preferiu dividi-lo em três parcelas: uma de entrada, outra na metade do prazo e a final.Depois da segunda parcela, os problemas começaram. A responsável pela reforma foi viajar, os funcionários diziam que não estavam recebendo, e a obra desandou.Quando voltou das férias, a dona da empresa pediu mais dinheiro para terminar o trabalho, mas Grillot decidiu cancelar o serviço. A partir daí, teve que contratar diretamente cada profissional.Além de serviços malfeitos que precisaram ser consertados, alguns fornecedores não cumpriram o prazo de entrega dos materiais. Com isso, Grillot acabou se mudando em setembro.”Foi traumatizante. Gastei muito mais do que o planejado”, diz ela, que até hoje enfrenta problemas no imóvel, como o chuveiro que esfria quando a pia da cozinha é ligada. “Aprendi a não deixar na mão de uma pessoa só, sem ninguém para fiscalizar seu trabalho.”POR ESCRITODar um sinal antes do início da reforma é praxe, mas o pagamento não deve ser feito de uma só vez ou por período, mas sim por etapa concluída. “A pessoa se assusta com o valor de R$ 15 mil por empreitada e acaba pagando R$ 400 por dia. Aí, a obra não anda”, afirma Ricardo Humberto Rocha, professor de finanças do Insper.Para se resguardar, o morador deve exigir um contrato com tudo muito bem detalhado: serviços, materiais utilizados, orçamento, forma de pagamento e cronograma.É possível ainda estabelecer multa diária no caso de atraso. Se houver um imprevisto, como abrir uma parede e encontrar um vazamento, o documento deve ganhar um adendo com a nova data de entrega, para que isso não seja desculpa para estender a obra indefinidamente.”Mas não é justificável que o fornecedor alegue como imprevistos questões que já poderiam ser contempladas em análises prévias, como não conseguir comprar um material de determinada marca”, diz Igor Marchetti, advogado do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).O ideal é começar a obra já com todas as mercadorias que precisam ser encomendadas, recomenda o arquiteto Marlon Gama.Também é melhor investir mais tempo no planejamento do que mudar de ideia durante a execução. “No papel, tudo é mais simples de ser alterado. No meio da obra, quanto menos mudanças, melhor”, afirma Xenofonte.Ele recomenda fazer o orçamento de todos os materiais que serão usados antes do início da obra. “Orço até as cortinas. Aí, o cliente tem certeza do que pode pagar”, diz.Para não desacelerar a obra por falta de dinheiro, a pessoa deve ter pelo menos 80% do valor da reforma poupado antes de começá-la. Além disso, é importante ter uma reserva de 25% para cobrir imprevistos, segundo Rocha, do Insper. “Mesmo se a pessoa poupar ela vai ter dor de cabeça. Sem isso, terá uma superenxaqueca”, afirma.SEM ENROLAÇÃOCuidados para acelerar a obraAUTORIZAÇÃOComunique ao síndico qualquer mudança que queira fazer no apartamento para não correr o risco de ter a obra embargada. Se for uma alteração mais complexa, será necessário chamar um engenheiro ou arquitetoPESQUISABusque referências sobre os profissionais, inclusive em relação ao cumprimento de prazos. Peça ao menos três orçamentos e não tenha pressa para decidir. Os valores estipulados no orçamento têm validade de dez dias após seu recebimentoORGANIZAÇÃOTenha pelo menos 80% do valor da reforma antes de seu início e uma reserva de 25% para imprevistos. Se não tiver experiência com obra ou tempo disponível, melhor contratar um profissional para coordenar tudoCONTRATOFaça o pagamento por etapa concluída, nunca por dia. Estipule um valor para multa se a reforma extrapolar o prazo estipulado. Em caso de imprevisto, coloque a nova previsão de entrega no contrato.
Fontes: Barbara Dundes, Marlon Gama, Tulio Xenofonte, arquitetos; Roberto Pallesi, professor do curso de engenharia da Mackenzie; Renato Daniel Tichauer, síndico profissional e presidente da Assosindicos; e Igor Marchetti, advogado do Idec
© Folha de São Paulo 28/01/2018