De argamassas especiais a porcelanatos e laje acabada, conheça produtos e técnicas que permitem obter a aparência despojada e contemporânea do revestimento cimentício
Texto: Juliana Nakamura
A solução adotada no projeto foi a laje acabada (Casa Geminada por CR2 Arquitetura / foto: Alessandro Guimarães)
O
cimento queimado é uma solução que caiu no gosto de arquitetos e designers por garantir um efeito despojado, contemporâneo, com uma pegada industrial e a um custo competitivo. Composto basicamente por cimento, areia e água, esse material pode ser aplicado em paredes, pisos e bancadas, seja em áreas internas ou em espaços externos.
Uma particularidade do cimento queimado é conferir à superfície um aspecto manchado e monolítico (sem juntas). Para muitas pessoas, são justamente essas características que tornam esse material tão interessante, especialmente para aplicação em pisos. Mas outras propriedades podem tirar o encanto dessa solução. O aparecimento de fissuras superficiais, resultado da dilatação e da contração naturais do material, é a principal delas.
Se o usuário não pode conviver com uma trinca, indicamos colocar juntas de dilatação formando quadrados grandes nas superfícies
Marcella Monfrinatti
“Se o usuário não pode conviver com uma trinca, indicamos colocar juntas de dilatação formando quadrados grandes nas superfícies”, diz a arquiteta Marcella Monfrinatti, sócia do escritório Two Design. Ela conta que, de modo geral, não recomenda o cimento queimado tradicional para clientes que valorizam somente superfícies perfeitamente planas e lisas.
Há de se considerar, ainda, que o ótimo resultado do cimento queimado depende em enorme medida da qualidade da execução. “É fundamental contar com uma execução bem feita, com um bom contrapiso. Caso contrário, trincas e rachaduras que são normais nesse tipo de revestimento podem se tornar grandes e largas, transformando-se em um problema”, destaca Mariane Cunha, diretora do escritório Ah!Sim.
Similar ao concreto queimado, o piso foi concebido através do sistema de concreto derramado na laje
(Casa em Samambaia por Rodrigo Simão Arquitetura / foto: André Nazareth)
REVESTIMENTO CIMENTÍCIO
A boa notícia é que a indústria tem buscado desenvolver soluções para quem não abre mão do efeito rústico do cimento queimado, mas precisa de alternativas que garantam um visual mais homogêneo. Entre as mais comuns estão os revestimentos decorativos de base cimentícia, fornecidos por empresas como Eurodecor, Bricolagem Brasil e Bautech e indicados para cobrir paredes e pisos em áreas de tráfego moderado.
Aplicados como uma massa/textura em espessuras que variam de 2 a 6 mm, esses produtos têm custo acessível (custam, em média R$ 50 o balde com 5 quilos, o suficiente para cobrir 1 m²). Além disso, não costumam apresentar problemas de fissuras ou rachaduras e têm alta resistência à abrasão graças à adição de fibras e inibidores de retração em sua composição. De fácil manutenção, podem ser utilizados sobre revestimentos preexistentes, inclusive cerâmicas. Também podem dispensar a construção de juntas de dilatação, garantindo um efeito monolítico mesmo em áreas maiores. Alguns fornecedores, no entanto, recomendam a execução de juntas frias ou plásticas compondo panos de no máximo 2m x 2m.
“Outra vantagem desses revestimentos é a variedade de cores, que podem ir dos tons mais claros aos mais escuros”, diz a arquiteta Nina Abadjieff. Para o sucesso desse tipo de solução, contudo, é fundamental respeitar os intervalos de secagem e cura indicados pelo fornecedor.
PORCELANATOS FULL HD
O
porcelanato com padrões cimentícios também é uma alternativa para obter o aspecto do cimento queimado. “Trata-se de uma ótima opção para quem quer um revestimento menos poroso e com maior facilidade de limpeza”, diz Monfrinatti, lembrando que o porcelanato pode ser aplicado em diferentes tipos de ambientes, inclusive úmidos.
Placas de 90 x 90 cm, de 120 x 120 cm ou ainda maiores são as mais recomendáveis para quem deseja o aspecto do cimento queimado, mas sem trincas, manchas e porosidade
Mariane Carneiro da Cunha
Para conquistar a aparência mais próxima do cimento queimado, a recomendação é optar por grandes formatos produzidos com a tecnologia de impressão full HD, que garante maior fidelidade na reprodução de sua estampa e textura. “Placas de 90 x 90 cm, de 120 x 120 cm ou ainda maiores são as mais recomendáveis para quem deseja o aspecto do cimento queimado, mas sem trincas, manchas e porosidade”, afirma Cunha, que sugere, ainda, dar preferência às placas com bordas retificadas e rejuntes mínimos de 1 ou 2 mm para um melhor resultado.
LAJE ACABADA
Em pisos, o efeito do cimento queimado monolítico também pode ser conquistado com o concreto derramado sobre a laje, também conhecido como laje acabada ou laje zero. Esse recurso foi utilizado na Casa em Samambaia, projetada pelo arquiteto Rodrigo Simão em Petrópolis (RJ), e na Casa Geminada, em São Paulo, de autoria das arquitetas Cecilia Reichstul e Clara Reynaldo do escritório CR2 Arquitetura. Em ambas as edificações, o concreto recebeu aditivos químicos e tratamento superficial com máquinas polidoras e vernizes para gerar superfícies espelhadas e bem acabadas.
Segundo Simão, a solução, muito utilizada em edifícios industriais, tende a ser econômica porque elimina etapas de contrapiso, argamassa, piso, rejunte e utiliza menos mão de obra. No entanto, requer o uso de um concreto com traço especialmente desenvolvido para piso polido, além de equipe mais especializada, sobretudo para lidar com etapas críticas, como nivelamento e polimento. Vale lembrar que esse tipo de solução exige um controle de planicidade muito mais rigoroso, uma vez que a laje estrutural também exerce o papel de contrapiso.
Colaboração técnica
Mariane Carneiro da Cunha – Administradora de empresas com especialização em design de interiores. É sócia-fundadora da Ah!Sim, empresa de arquitetura focada em projetos de reformas
Nina Abadjieff – Formada em arquitetura e design de interiores, está à frente do escritório que leva o seu nome em Belo Horizonte (MG)
Marcella Monfrinatti – Graduada em arquitetura e urbanismo, é sócia do escritório Two Design